Rastreamento para câncer de próstata deve ou não ser feito?

Neste artigo, exploramos o rastreamento para câncer de próstata, abordando as recomendações oficiais e as evidências científicas sobre os exames de PSA e toque retal. Uma leitura essencial para entender a importância desse processo na saúde masculina.

Rastreamento para câncer de próstata

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina do país, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. No Brasil, estimam-se 71.730 novos casos de câncer de próstata por ano para o triênio 2023-2025. Atualmente, é a segunda causa de óbito por câncer na população masculina, reafirmando sua importância epidemiológica no país (segundo dados do INCA, 2022). Em boa parte dos casos, é um câncer de desenvolvimento lento, não dá sintomas e não causa prejuízo para a saúde.

Devido à alta prevalência desse câncer na nossa população, muitos pacientes buscam consultas médicas para solicitações de PSA (antígeno prostático específico) ou toque retal visando a identificação da doença em estágios iniciais (muitas vezes estimulados pelas campanhas do novembro azul divulgadas na mídia). Mas será que o rastreamento para câncer de próstata é realmente recomendado?

Definição de rastreamento

Entende-se por rastreamento a aplicação de teste ou exame numa população assintomática (sem sinais ou sintomas), aparentemente saudável, para identificar alterações sugestivas de câncer e, a partir daí, encaminhamento dos pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento. 

Esse conceito diferencia-se da definição de diagnóstico precoce, que refere à detecção precoce do câncer em estágios iniciais em indivíduos que já apresentam sinais ou sintomas.

Evidências científicas sobre o rastreamento do câncer de próstata

Até o momento, não há certeza na literatura de que a realização sistemática de rastreamento de câncer pelo exame do PSA em pessoas com próstata entre 40 e 69 anos traga benefícios. O que está bem estabelecido é que não há benefício da dosagem do PSA em pessoas com próstata e assintomáticas com idade igual ou menor que 40 anos. Tampouco naquelas acima de 70 anos, salvo se excelente estado de saúde e expectativa de vida maior que 10 a 15 anos.

O que foi identificado em revisões sistemáticas sobre o tema é que a prática do rastreamento para câncer de próstata aumenta de forma significativa o diagnóstico desse câncer, sem contudo apresentar redução significativa da mortalidade. Ou seja, os indivíduos não morreram menos com essa estratégia. 

Além disso, o rastreamento para câncer de próstata pode gerar alguns riscos aos pacientes, entre eles:

  • Sobrediagnóstico – pessoas sendo diagnosticadas com um câncer que nunca causaria sintomas ou reduziria a expectativa de vida; e
  • Tratamento excessivo – pessoas sendo tratadas desnecessariamente por tumores que dificilmente seriam prejudiciais.

A seguir, temos uma tabela que resume os possíveis riscos e  benefícios do rastreamento para câncer de próstata:

Rastreamento para câncer de próstota

Fonte: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document/apoio_decisao_cancer_prostata_2019_0.pdf

Rastreamento para câncer de próstata: o que é recomendado pelo Ministério da Saúde e o INCA?

O Ministério da Saúde e o INCA assinaram uma nota técnica em 16/10/2023 em que não recomendam o rastreamento para câncer de próstata na população. Devido a essa recomendação e a fragilidade das evidências científicas sobre os reais benefícios do rastreamento, defende-se a decisão compartilhada entre os homens e seus médicos, considerando de forma aberta os prós e contras dessa estratégia. 

Cabe ressaltar que diretrizes nacionais e internacionais recomendam a utilização do PSA e o toque retal para avaliação de homens com elevado risco para neoplasia prostática e em homens com sintomas urinários que, embora inespecíficos, podem também estar associados ao câncer de próstata, necessitando de confirmação do diagnóstico.

O toque retal é obrigatório no rastreamento de câncer de próstata?

Para aqueles pacientes que optarem pelo rastreamento para câncer de próstata com o exame de PSA, o toque retal não é obrigatório. Isso porque é incomum a ocorrência de câncer de próstata do tipo agressivo que cause alteração apenas no exame de toque.

Apesar disso, é um exame simples que pode ser realizado para auxiliar o médico a decidir se há indicação de biópsia da próstata, principalmente quando o PSA está alterado.

O que é realmente importante fazer pensando na saúde do homem?

Mudanças nos hábitos de vida podem melhorar a saúde do homem e evitar doenças que realmente causam alta mortalidade ou prejuízo na qualidade vida (como doenças cardiovasculares, por exemplo). Entre essas medidas estão: prática de atividades físicas; evitar consumo abusivo de álcool; alimentação saudável; parar de fumar; sexo seguro e evitar o sobrepeso ou obesidade.

Em resumo – Rastrear câncer de próstata?

Os principais pontos abordados no artigo:

  • Alta prevalência do câncer de próstata no Brasil.
  • Diferença entre rastreamento e diagnóstico precoce.
  • Evidências limitadas sobre benefícios do rastreamento por PSA.
  • Ministério da Saúde e INCA não recomendam rastreamento populacional.
  • Riscos de sobrediagnóstico e tratamento excessivo.
  • Promoção de estilo de vida saudável para prevenir doenças.

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